I’m coming out of my cage and I’ve been doing just fine
Estive pensando muito esses dias. Desde que saí com uns colegas e descobri amizades. Relembrei de bons momentos. Estive realmente alegre por um período estendido de tempo, depois de não sei quanto. Eu não estava entendendo por quê sair com aquelas pessoas, naquela situação, havia me feito tão bem. Ou se isso tinha ligação com meu estado de espírito num geral.
Gotta gotta be down, because I want it all
Eu queria muito estar ali de novo. Eu voltei pra casa sorrindo, pensando que tinham me falado “sexta tem mais, aparece aí”. Um convite, convite de pessoas legais, que não tinham ligação nenhuma com minha vida anterior, não eram de escola ou faculdade, não eram amigos de parceiros convidando o casal. Eram só pessoas legais, me convidando pra ir tomar uma cerveja. Por quê eu estava estranhando tanto aquela situação?
-It started out with a kiss, how did it end up like this?-
-(It was only a kiss)-
It was only a kiss!
Eu me peguei imaginando coisas. Tendo vontades. Tendo interesses. Querendo mais. Me questionando, o que seria da minha vida se eu tomasse tal decisão? Ou aquela outra? Será que eu teria problema se decidisse mudar? Se eu decidisse por exemplo, ficar solteiro? Se eu tentasse um relacionamento aberto? Se eu só fizesse o que eu bem entendesse e deixasse as consequências virem depois?
(Now I’m falling asleep
And she’s calling a cab
While he’s having a smoke
And she’s taking a drag)
Ao invés de fazer alguma coisa a respeito disso, eu tomei outras decisões primeiro. Troquei de horário na faculdade. Me juntei a um coletivo LGBT. Fiz contatos. Fiz mais amigos. Saí mais vezes. Levantei assuntos dentro de um relacionamento, que ainda não sei no que vai dar. Mas algo me diz que não vai dar certo.
Now they’re going to bed
And my stomach is sick
And it’s all in my head but
She’s touching his chest now
He takes off her dress now
Let me go
E as coisas começam a complicar de novo. Com as idéias que passam na minha cabeça, o contrário começa a passar também. Eu vejo ele com outras pessoas. Fazendo o que fazemos, com outras pessoas. Amando outras pessoas. E isso não me causa nada. Eu dou de ombros e penso: “Se ele estiver feliz com isso”. Meus sentimentos passaram dos sentimentos de um relacionamento amoroso. Subiu pro nível de melhor amigo. Subiu, sim, porque raramente um namoradx meu teria um título de melhor amigo. Pelo menos, não até agora. Quando eu gosto tanto assim de alguém, eu fico completamente desprendido da pessoa, porque eu confio plenamente nela. Mas por outro lado, eu também sinto a necessidade de me desprender. Eu sinto necessidade de me descobrir de novo. Afinal de contas, estamos juntos a quanto tempo? E olha tudo que eu estou passando, a transição, tudo isso… É muita mudança…
And I just can’t look, it’s killing me
And taking control
E então me pego me olhando no espelho, pela milésima vez. Toda vez que passo na frente do espelho eu paro pra olhar pra mim mesmo. Não pra ajeitar o visual, não sou desses. Mas pra olhar pra dentro e fora de mim. Pra tentar me reconhecer. Eu me reconheço melhor do que antes, mas ainda falta algo. Eu não consigo olhar no espelho e falar meu nome com propriedade. Meu novo nome não tem o mesmo passado que o outro. Eu sei que independente de transição, eu ainda vou ser a mesma pessoa. Ainda vou ter passado por tudo que passei. Ainda vou ter conhecido todas as pessoas que conheci. Ainda vou ter estudado nas mesmas escolas, trabalhado nas mesmas lojas, ido pros mesmos lugares. Mas essa nova identidade, essa que não é uma máscara que eu visto pra sair de casa, essa que finalmente me deixa ser eu mesmo e não uma fantasia que vesti pra agradar os outros… Esta nunca foi a uma festa. Esta nunca teve alguém sentindo atração por si. Esta nunca se atraiu por ninguém. Esta nunca esteve em uma briga. Esta nunca havia tomado uma cerveja no bar com os amigos. Esta… Esta nunca beijou.
{Jealousy}
Turning saints into the sea
Swimming through sick lullabies
Choking on your alibis
Trazer estes assuntos e pensamentos a tona não trouxe nenhuma vantagem. Houveram discussões, conversas, negociações, mas não mudou nada. Eu continuo querendo me descobrir, e ele continua querendo me acompanhar do jeito dele. Mas se não for do jeito dele, ele vai embora. Eu não sei dizer se é o melhor momento pra quebrar essa barreira. Eu quero mais. Eu quero seguir minha vida e minhas vontades, minhas urgências, minha liberdade. A liberdade que eu achei que tinha ao sair da casa dos meus pais, mas percebi que não tinha. Eu quero ficar na rua até tarde e fodasse meu compromisso do dia seguinte. Eu quero sair com meus novos amigos e fodasse o que vão pensar disso. Fodasse se gostam deles ou não. Eu sei que ele não vai gostar. Mas eu quero ignorar. Eu quero viver por mim, e só por mim. Mas eu não tenho coragem de ser aquele que vai acabar com isso. Eu o amo e o prezo tanto que não quero ser aquele que o vai fazer sofrer. Eu não queria, na verdade, que ele se afastasse. Mas ele diz que não há outro jeito…
But it’s just the price I pay
Eu continuo sem tomar nenhuma decisão quanto a isso, mas também continuo seguindo em frente. Eu sei o que eu quero, mas também sei o que eu não quero. Eu sinto que estou apenas prorrogando coisas inevitáveis. A sensação de que algo muito grande vai acontecer ainda não sumiu… E ela vem andando comigo já faz uma semana. Mas toda noite, quando olho pro céu, é como se algo me chamasse. Um chamado pacífico, de conformidade, como um cobertor quentinho após sobreviver a uma tempestade. E embora de tempo em tempo a ansiedade me alcance, eu ainda tenho um quentinho no peito me dizendo que no fim, só vai acontecer aquilo que for melhor. Pra mim, pra ele, pra quem se fizer presente na minha vida.
Destiny is calling me
Open up my eager eyes